Projeto Transição Tropical disponibiliza bolsas de mestrado e IC
Texto de Mariana Pezzo (ICC - UFSCar) - Publicado originalmente no Portal da UFSCar em 16-06-2025
Lagoa do Sino: Transição Tropical disponibiliza bolsas de mestrado e IC
O projeto Transição Tropical, desenvolvido na Fazenda Escola Lagoa do Sino (FELS) da UFSCar, destinará bolsas de mestrado, iniciação científica e iniciação científica júnior a pesquisas relacionadas aos objetivos da iniciativa, que visa o desenvolvimento de novo modelo agrícola, com base na agricultura regenerativa e orgânica. O anúncio foi feito no dia 12 de junho, em evento de apresentação de resultados do terceiro ciclo do projeto. Os recursos para as bolsas foram conquistados por meio de emenda do deputado federal Guilherme Boulos, no valor de R$ 400 mil.
O projeto Transição Tropical é uma parceria da FELS com o Instituto Folio, iniciada em 2024 e com previsão inicial de empreender a transição em um período de cinco anos. No momento, a iniciativa já é apoiada financeiramente pelos institutos Ibirapitanga e Itaúsa, além da emenda parlamentar, e conta também com vários parceiros institucionais e para impulsionamento tecnológico, que podem ser conferidos no site do Transição Tropical, também lançado no evento de conclusão do terceiro ciclo.
O Pró-Reitor de Pesquisa da UFSCar, Pedro Fadini, destacou na abertura do evento a especial relevância do projeto como contribuição ao enfrentamento das crises climática e de perda de biodiversidade. Alberto Carmassi, Diretor do Campus Lagoa do Sino e coordenador do programa de extensão da FELS, destacou a trajetória da Fazenda até a transformação de suas atividades agrícolas em campo para ensino, pesquisa e extensão, há cerca de quatro anos, e posteriormente até a concepção do modelo que agora articula Universidade, outras instituições de pesquisa, agricultores e indústrias de bioinsumos para desenho de uma nova era para a agricultura. Já Luís Barbieri, Diretor Executivo do Folio, apresentou como a ideia é consolidar um pacote tecnológico saudável e competitivo que, em outras palavras, ofereça comida melhor à população que não seja, por isso, mais cara, como acontece hoje com a maior parte dos alimentos orgânicos, por exemplo.
A ideia, no projeto, é transformar a FELS cada vez mais em um espaço laboratorial, com ampliação progressiva da área produtiva destinada à conversão de um modelo produtivo intensivo em insumos químicos por práticas regenerativas e orgânicas. Para o estabelecimento do vínculo com os processos de formação de pessoas, produção de conhecimento e sua aplicação por meio da extensão, as bolsas serão fundamentais, apoiando projetos que devem, dentre outros focos, oferecer dados sobre a viabilidade técnica e econômica das soluções adotadas, bem como sobre os ganhos em termos da conservação da biodiversidade e da sustentabilidade.
Bolsas
Os editais para seleção de bolsistas já foram publicados, e as inscrições acontecem de 16 a 27 de junho. Editais e outras informações detalhadas estão publicados no site da FELS. Para todas as modalidades, os projetos devem estar alinhados a uma das linhas temáticas do projeto, que são Transição Tropical e (i) Biodiversidade, (ii) Sustentabilidade, (iii) Sociedade, (iv) Produção de Alimentos e (v) Alimentos Saudáveis.
No caso do mestrado, serão oferecidas 4 bolsas, sendo 2 para o Programa de Pós-Graduação em Conservação da Fauna e as outras 2 para o Programa de Pós-Graduação em Conservação e Sustentabilidade, com reserva de metade das vagas para egressos de ensino público (ou do ensino privado com bolsa) ou pessoas negras. Podem participar estudantes regularmente matriculados nos programas, e as bolsas terão duração de até 24 meses, com mensalidades de R$ 2.233,55.
Para iniciação científica, são 17 bolsas, para estudantes regularmente matriculados nos cursos de graduação do Campus Lagoa do Sino, com reserva de 7 vagas para egressos de ensino público (ou do ensino privado com bolsa) ou pessoas negras. As 10 vagas de ampla concorrência serão distribuídas entre as cinco linhas temáticas, sendo 2 para cada linha. Neste caso, serão 12 mensalidades, no valor mensal de R$ 800,10.
Para a iniciação científica júnior, serão destinadas 5 bolsas, para estudantes regularmente matriculados em escolas da rede pública do território Lagoa do Sino (nos 1º ou 2º anos do Ensino Médio). Os projetos deverão ser inscritos por docentes do Campus, que posteriormente indicarão os estudantes bolsistas. Também neste caso serão 12 mensalidades, no valor mensal de R$ 340.
Ciclo 3 da Transição
O projeto Transição Tropical é organizado em ciclos trimestrais, ao final dos quais são realizados eventos para apresentação e discussão de resultados, bem como para planejamento do ciclo seguinte. A governança está estruturada em grupos de trabalho (GT) e, no evento da última semana, uma novidade foi a criação de três novos GTs. Os grupos que já são existiam são os de Governança, Acadêmico e Agronômico. Os novos GTs são os de Qualidade e Processamento Alimentar, de Agroecologia e de Adequação e Gestão Ambiental.
Na apresentação, também foram destacados resultados já alcançados para cada um dos cinco objetivos estratégicos do projeto. Para o Objetivo 1, que é fazer a transição para um modelo sustentável de base agroecológica, regenerativa e orgânica, já foi alcançada a redução no uso de agrotóxicos em taxa de 20% ao ano. A concessão das bolsas de estudos foi o destaque no Objetivo 2, justamente relacionado à associação das atividades da FELS ao ensino, à pesquisa e à extensão. O Objetivo 3 refere-se à articulação entre parceiros como estratégia para sustentar a transição, e foi registrada na apresentação o aumento no número de parceiros da indústria apoiando o projeto com diferentes recursos (conhecimento, insumos e outros). Os objetivos 4 e 5 são relacionados aos novos grupos de trabalho, buscando o desenvolvimento de modelos produtivos regenerativos em reservas legais e áreas de preservação permanente (APPs) e o fortalecimento de cadeias produtivas que integrem diversidade agroalimentar, biodiversidade e qualidade alimentar.
A programação de encerramento do terceiro ciclo teve também oficina sobre diagnóstico do solo, ministrada por equipe da Laborsolo, parceira da iniciativa, e palestra motivacional com Marcelo Behar, Nigel Topping e Gonzalo Muñoz, que lançaram na ocasião a Ambition Loop Brasil, braço brasileiro da organização global sediada no Chile que apresenta como missão promover ações transformadoras relacionadas aos desafios de mudanças climáticas, biodiversidade, poluição plástica, sistemas alimentares e recursos hídricos.
No encerramento da apresentação dos resultados do terceiro ciclo do projeto Transição Tropical e do anúncio das bolsas, Alexandra Sanches, docente que integra o GT Acadêmico, se emocionou ao exibir imagens de um mico-leão-preto avistado no Campus. A espécie, ameaçada de extinção e endêmica da região, é foco de pesquisas realizadas na UFSCar. "Que o nosso campus, crescendo em ensino, pesquisa e extensão voltados à mudança nos modos de produção, possa seguir sendo este local que mantém a biodiversidade e, assim, ser modelo para outras fazendas em outros locais", concluiu, inspirada em frase do doador da fazenda e escritor Raduan Nassar, registrada no romance Lavoura Arcaica: "[...] só a justa medida do tempo dá a justa natureza das coisas".